terça-feira, 1 de maio de 2007

“Onde está todo mundo?”


Apesar das possibilidades remotas, nosso colunista inclui a si mesmo no grupo de cientistas que nutrem a esperança de um dia encontrar vida alienígena inteligente


A pergunta do título foi feita pelo grande físico italiano Enrico Fermi a alguns de seus colegas de Los Alamos, o laboratório americano onde, entre 1942 e 1945, foi construída a bomba atômica. Fermi não se referia a uma lista de convidados para uma festa. Sua preocupação era com os seres extraterrestres que, supostamente, deveriam já ter nos visitado.

Fermi raciocinou da seguinte forma: sabemos que nossa galáxia, a Via Láctea, tem em torno de 100 mil anos-luz de diâmetro e uma idade de 10 bilhões de anos. Se alguma forma de vida inteligente tivesse desenvolvido espaçonaves capazes de viajar, digamos, a 10% da velocidade da luz (isto é, 30 mil km/s), teria atravessado a galáxia 10 mil vezes em 10 bilhões de anos. Nessas travessias todas, por que não deram uma ou mais paradinhas por aqui? Onde estão os ETs?

OK, você pode argumentar que é extremamente improvável que uma civilização tivesse se desenvolvido a tal ponto de sofisticação logo no início da vida da galáxia, há 10 bilhões de anos. Afinal, a Terra só surgiu há 4,6 bilhões de anos, e a vida inteligente, em torno de 100 mil anos atrás. Ou seja, passaram-se quase 5 bilhões de anos até que vida inteligente pudesse aparecer aqui. Tudo bem, dou um desconto. Digamos, então, que seres ultra-sofisticados surgiram em algum outro ponto da galáxia há 1 bilhão de anos. Nesse caso, eles teriam tido tempo de atravessar a galáxia mil vezes. Cadê eles?

Existem várias respostas possíveis para essa pergunta. Muitos acreditam que eles estiveram já por aqui. Outros que ainda estão. Infelizmente, não temos qualquer prova disso. Não existem artefatos com tecnologia alienígena, provas de teoremas matemáticos dadas a cientistas, sabedoria profunda de inteligências mais sofisticadas reveladas a filósofos ou políticos, nada de concreto. Existem depoimentos, visões e miragens que podem ser explicadas muito mais facilmente como fenômenos atmosféricos do que como sendo espaçonaves. Os deuses, segundo a opinião da maioria absoluta dos cientistas, não eram astronautas. É muito mais fácil acreditar em algo quando se quer muito acreditar nesse algo.

Sei que essa posição irá desapontar aqueles que juram ter visto algo estranho e "inexplicável" nos céus. Eu também já vi, mas era um meteorito espetacular. Os cientistas não são céticos porque são chatos; são céticos para proteger a sociedade de abusos da verdade, charlatanismo e oportunismo que ainda ocorrem com muita freqüência. Seríamos os primeiros a celebrar a descoberta de vida extraterrestre. Afinal, a natureza é cheia de surpresas, e muito mais esperta do que nós.

O que sabemos é que, ao menos no nosso Sistema Solar, a possibilidade de vida existe, mas é remota. Talvez tenha existido em Marte, talvez existam seres muito exóticos em Europa, a lua de Júpiter que tem um oceano sob uma crosta de gelo. Vários fatores complicam a questão. Mesmo que a vida seja muito criativa e resistente, as condições nos outros planetas são muito difíceis: frio ou calor intenso, radiação destrutiva, falta de água. Fora isso, o pulo em complexidade de vida para vida inteligente é imenso. Acho provável que exista vida em outros planetas e luas pela galáxia. Porém a probabilidade de que essas formas de vida sejam inteligentes e tecnologicamente sofisticadas a ponto de viajar pelo espaço a velocidades altíssimas é muito pequena.

Mas não é nula. É isso que nutre a esperança de tantos, não só a dos que juram já ter visto os ETs, como, também, a dos cientistas céticos que sonham em vê-los.